O transtorno de déficit                         de atenção/hiperatividade (TDAH) é                         um dos transtornos comportamentais com maior incidência                         na infância e na adolescência. Pesquisas realizadas                         em diversos países revelam que o TDAH está                         presente em torno de 5% das crianças em idade escolar.                         Trata-se de uma síndrome clínica caracterizada                         basicamente pela tríade sintomatológica: déficit                         de atenção, hiperatividade e impulsividade. 
                                                  Crianças com este diagnóstico apresentam freqüentemente                         prejuízos no desempenho acadêmico e social,                         pois apresentam dificuldade em se organizar, em manter atenção                         em sala de aula, realizar deveres escolares ou permanecer                         sentadas ou quietas.
                                                 Comumente crianças com                         o diagnóstico de TDAH apresentam comorbidades (outros                         transtornos comportamentais associados) sendo os mais comuns                         o transtorno desafiador opositivo, transtorno de conduta,                         transtornos ansiosos, trastornos do humor e o transtorno                         por uso de substâncias psicoativas (álcool                         e drogas).
                                                Vários estudos referem                         a associação do TDAH ao uso de substâncias                         psicoativas na adolescência. Para se ter uma idéia,                         entre 20% e 50% de pacientes dependentes químicos                         de álcool apresentam história de TDAH na infância.                         Entre abusadores de cocaína e opióides a prevalência                         dessa associação pode chegar até 45%                         dos casos.
                                                A adolescência por si                         só é um grande fator de risco para o consumo                         de drogas. Trata-se de uma fase de grandes modificações                         físicas e comportamentais em que o jovem tenta criar                         sua própria identidade, sua personalidade e não                         aceita mais passivamente ordens e orientações                         de seus pais, identifica-se mais com o grupo de amigos e                         está mais apto a novas experiências, novos                         riscos e desafios. Crianças e adolescentes excessivamente                         tímidos, impopulares e que não conseguem se                         destacar nos esportes ou estudos podem buscar nas drogas                         sua identificação. A influência de “modismos”,                         a facilidade para obtenção de drogas, principalmente                         nos grandes centros urbanos, a falta de vínculos                         afetivos dentro de casa e a inserção em lares                         desestruturados aumentam as chances de se tornarem usuários                         de drogas. 
                                                Tais fatores de risco aplicam-se                         a todos os jovens, entretanto adolescentes com o diagnóstico                         de TDAH experimentam drogas mais precocemente, usam-nas                         em maior quantidade, tornam-se mais dependentes e demoram                         mais tempo a buscar tratamento. Esses fatos estariam relacionados                         a uma tendência maior de automedicação                         realizada por estes jovens, na busca por alívio dos                         sintomas de inquietação motora, hiperatividade                         e agitação que o TDAH promove. Há também                         uma menor percepção do abuso, maior dificuldade                         de cessação do uso e menor senso crítico                         na escolha do grupo por esses pacientes.
                                                Outras comorbidades comuns ao                         TDAH também podem influenciar no desencadeamento                         do uso de álcool e drogas como o transtorno desafiador                         opositivo e o transtorno de conduta. Logo, a investigação                         de quadros associados ao TDAH também deve ser realizada                         para fins terapêuticos e de prognóstico, pois                         quadros associados apresentam maior dificuldade de adesão                         e na resposta ao tratamento, além de influenciar                         no curso do transtorno com aumento das chances do envolvimento                         com drogas durante a adolescência.
                                                Desta forma o trabalho de identificação                         precoce do TDAH e de suas comorbidades em crianças                         pode ser uma medida eficaz na prevenção ao                         uso de substâncias psicoativas na adolescência.                         Não que o tratamento do TDAH e suas comorbidades                         impeça o desencadeamento do uso de drogas, visto                         que esse uso depende de diversos outros fatores como descrito                         anteriormente, mas pode diminuir consideravelmente as chances                         deste jovem se tornar um abusador ou dependente de álcool                         e outras drogas.
                                                Partindo do princípio                         de que crianças com TDAH apresentam índices                         elevados de uso de substâncias psicoativas na adolescência,                         o tratamento eficaz do transtorno e de suas comorbidades                         associado ao trabalho de orientação ao paciente                         e aos pais sobre o manejo dos sintomas do TDAH e a orientação                         para a prevenção ao uso de álcool e                         drogas pode influenciar consideravelmente para um desfecho                         positivo no futuro deste jovem em formação.
                                                Dr. Gustavo Teixeira