Uma breve história
No passado as crianças
e adolescentes não eram valorizados através
da ótica contemporânea que temos hoje, de um
ser humano em crescimento, em desenvolvimento, em formação,
com desejos, pensamentos e necessidades especiais. Enfim,
um ser diferente do adulto e carente por cuidados e atenção.
Até séculos atrás existia um pensamento
corrente, de que as crianças eram “mini-adultos”,
não tinham o direito de brincar, estudar ou “ser
criança” e até mesmo as roupas e vestimentas
eram idênticas às usadas pelos adultos.
Um fator importante que colaborava
para essa visão equivocada da infância era o
fato de que até antes do século XVII o termo
“família” era designado apenas à
fidelidade dos servos ao senhor feudal, sem nenhuma conotação
sentimental ou de núcleo hereditário que temos
hoje. A partir desta época, com o final do feudalismo,
com o surgimento das cidades e o desenvolvimento do capitalismo,
ocorreu na Europa a expansão das escolas e dos conceitos
iniciais de pedagogia.
Posteriormente, no século
XVIII, com a Revolução Industrial, a família
passou a ser observada como núcleo unificador dos valores
morais e éticos da sociedade, e a criança passou
a ser cada vez mais valorizada e protegida. Novas literaturas
abordando a criança, a educação infantil,
a pedagogia, o tratamento e os cuidados maternos tornaram-se
aos poucos amplamente difundido e tomaram espaço nos
Cafés parisienses e nas ruas movimentadas de Londres,
atingindo a burguesia da época e suas famílias.
A sociedade passava a dedicar grande atenção
a conceitos como proteção ao núcleo familiar
e a criança se tornava, naquele momento, foco de grande
proteção parental. A educação
infantil passou a representar importante função
na sociedade e na cultura ocidental.
Jean Jacques Rousseau, destacado
escritor suíço da época, introduziu a
concepção de que a criança era um ser
com características próprias em suas idéias
e interesses e não poderia mais ser vista como um adulto
em miniatura. Cada fase da vida representava características
próprias, e a educação era elemento fundamental
para as modificações individuais de cada indivíduo
em formação. Diferentemente da rígida
e hierarquizada educação da época, Rousseau
propôs a utilização de brinquedos, de
esportes, linguagem, canto, aritmética e geometria
com a intenção de estimular o desenvolvimento
infantil, respeitando suas diferenças quando comparadas
aos adultos.
A partir da valorização
desses novos representantes da sociedade, a própria
medicina passou a estudar os aspectos comportamentais infantis
e já em 1621, ainda no século XVII, o médico
inglês Robert Burton publica A anatomia da melancolia,
obra que retrata em determinado momento a descrição
de um caso de depressão infantil. Anos mais tarde,
em 1683, Francis Willis apresenta manuscritos sobre a psicose
na infância.
No início do século
XIX, Pinel e Prichard, outros dois importantes médicos
psiquiatras franceses descrevem alterações comportamentais
em pacientes jovens que apresentavam sintomas anti-sociais
recorrentes. Pinel denomina “manias sem delírio”
e Prichard de “insanidade moral”. Emil Kraepelin,
importante psiquiatra alemão, também descreveu
sintomas semelhantes denominando-os “defeitos morais
da infância”, referindo-se a estes sintomas disruptivos
do comportamento infantil, além de apresentar descrições
detalhadas sobre a mania na infância e adolescência.
Em meados do século
XIX surgiram as primeiras referências sobre os transtornos
hipercinéticos na literatura médica, (para aqueles
que ainda acreditam que TDAH é moda) quando o médico
alemão Heinrich Hoffmann descreve em 1854 a “insanidade
impulsiva”, referindo-se ao comportamento de crianças
hiperativas em sua obra Der Struwwelpeter.
No início do século
XX o estudo comportamental infantil progredia intensamente
até que, em 1937, acontece na França o I Congresso
de Psiquiatria Infantil de Paris. Este acontecimento histórico
é o marco do início desta nova especialidade
médica.
No Brasil Stanislau Krynski
e Antônio Branco Lefèvre criam em 1967 a Associação
Brasileira de Neuropsiquiatria Infantil (ABENEPI).
Dr.
Gustavo Teixeira
(Transtornos Comportamentais na Infância e Adolescência)
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